terça-feira, 15 de maio de 2012

Barquinho



Fiquei, você disse para eu ficar! Estagnei, atraquei não muito longe da nossa ilha (se é que posso chamar algo de nosso ainda), olhei diversas vezes pra trás na esperança de te ver fazendo algum gesto, pedindo que eu voltasse. Enfrentei tempestades, pensei que fosse naufragar, tive medo, estava só, lembrei de quando você sorrindo dizia que nunca largaria minha mão, as ondas eram altas e geladas, nem parecia verão. Experimentei o gosto amargo e intragável da solidão, foi inevitável não lembrar das tantas vezes que sentados na praia, com as ondas batendo de leve nos nossos pés, água quente, areia fofa, coqueiros balançando como que embalados por uma canção gostosa e um sutil cheiro de amor no ar, você tocava meu rosto ao tempo em que fazia promessas de amor eterno e eu sinceramente não sabia o que era o eterno até conhecer você. Depois de alguns dias as tempestades vieram a cessar, agora uma chuva fininha parece me acompanhar, já não me assusto tanto pois estou em terra firme outra vez, apesar de não esquecer as delícias que deixei ao sair daquela ilha, nem muito menos os dolorosos dias que passei em alto-mar abandonada, vejo ao longe um barquinho, parece-me cada dia mais perto e vem em direção a este porto, ele é azul e branco, talvez traga boas novas.



"Sei que há léguas a nos separar
Tanto mar, tanto mar
Sei, também, que é preciso, pá
Navegar, navegar
Lá faz primavera, pá
Cá estou doente
Manda urgentemente
Algum cheirinho de alecrim"
(Chico Buarque)

segunda-feira, 14 de maio de 2012

Ainda

Alguma coisa aqui em mim tem o seu jeito ainda, o seu cheiro me pega desprevenida as vezes. Olho pela janela mas não vejo ninguém. Eternizará em mim? Não sei, talvez seja cedo para responder a essa pergunta, sei lá, talvez seja cedo pra tentar te esquecer.



"Ainda tem o seu perfume
Pela casa
Ainda tem você na sala
Porque meu coração dispara?
Quando tem o seu cheiro
Dentro de um livro
Dentro da noite veloz..."
(Adriana Calcanhotto)