segunda-feira, 9 de abril de 2012

O outro dia

"Mas para meu desencanto
O que era doce acabou
Tudo tomou seu lugar
Depois que a banda passou."
(Chico Buarque)

Não estava disposta a acordar naquele dia, na verdade eu queria dormir por muitos e muitos dias, queria ficar no quarto sem ouvir ninguém, sem sentir seus olhares de piedade e aqueles conselhos enfadonhos e caridosos: "isso passa", "não sofra desse jeito", "daqui a pouco você conhece um outro alguém". Nao teve jeito, tive que levantar. Sentei-me na cama, meu corpo estava moído (não tanto quanto meu coração), calcei os chinelos que ele as vezes por brincadeira pegava emprestado, riamos mutio, aliás nós riamos de tudo, nossa companhia nos bastava e completava, olhei aqueles chinelos, tive vontade de arremessa-los pela janela, não fiz. Levantei a cabeça e avistei o quarto vazio, sem vida, sem cor, sem o cheiro dele, gelei. Abri a porta e percebi alguém na cozinha, encostei no balcão, preferi não sentar, queria que todos vissem que eu estava forte, coloquei o café, segurei a xícara alguns instantes no ar, tomei um gole, nunca tinha experimentado algo tão amargo, pensando bem, não era de se estranhar, os ultimos acontecimentos foram todos amargos, mais até que aquele café. Não comi nada, o estômago estava embrulhado, sentei na varanda, o vizinho ouvia Saudade de Maria Bethânia, deitei e senti uma dor desesperada na alma, o coração caqueou.



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